Vai pra Cuba!
- Caroline Prado
- há 2 dias
- 5 min de leitura
Cuba é um país cercado de mitos e ideias, especialmente para aqueles que não o conhecem. São inúmeras as informações que chegam até nós: “Eles gostam de ser pobres!”, “Bem feito, querem o socialismo!”, “Como conseguem viver em um país que não tem nada?”
Essas são algumas das perguntas que frequentemente ouvimos sobre a ilha. Vamos conversar um pouco sobre isso.

Cuba, com uma população estimada em 11 milhões de pessoas (Banco Mundial, 2023), tem como principais fontes de renda a produção agrícola, com destaque para a banana, abacaxi e tabaco, além do turismo.
Quando o assunto é turismo em Cuba, trata-se de um tema bastante delicado. Muitos argumentam, de forma veemente, que por ser um país comunista, Cuba não mereceria receber o dinheiro do turismo. Mas será que deveríamos realmente pensar dessa maneira?
O povo cubano

Os cubanos são pessoas extremamente trabalhadoras, politizadas e movidas por uma forte fé em um mundo mais justo. As pessoas que “sobrevivem” no país - já que consideram injusto abandonar o local onde nasceram e não veem razão para se mudarem, pois acreditam no sistema político que escolheram viver - lutam continuamente por um futuro melhor. Elas mantêm viva a esperança de que o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos contra Cuba seja enfim dissolvido.
Quando dizemos que elas sobrevivem, estamos sendo bastante literais. Devido ao bloqueio americano, o país enfrenta inúmeras restrições: alimentos, produtos farmacêuticos, materiais de construção, petróleo e muitos outros itens são escassos. Mesmo diante dessas adversidades, os cubanos fazem o máximo possível para manter uma vida minimamente digna.
Ao conversar com as pessoas nas ruas de Havana, é perceptível o alto nível de consciência política da população. Todos sabem da existência do embargo e, em geral, entendem os problemas relacionados tanto ao governo - como ocorre em qualquer país no cenário internacional - quanto ao embargo, considerado o maior dos obstáculos, segundo os próprios cubanos.

Efeitos do embargo

Além de alimentos e outros produtos essenciais que não chegam no país devido ao bloqueio, muitos bancos também não operam em território cubano. Qualquer banco que tenha algum vínculo com os Estados Unidos, mesmo não sendo americano, não está ativo no país.
Alguns turistas também precisam de uma permissão especial para ingressar em Cuba. Por exemplo, é necessário estar participando de algum congresso, estudo científico ou atividade similar para obter a autorização de entrada.
Desde o início da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, o país enfrenta dificuldades com a escassez de combustível. A Rússia, que era a principal fornecedora do produto para a ilha,
interrompeu o fornecimento. Por essa razão, o combustível é racionado, e os serviços de táxi operam com algumas restrições, mas ainda continuam funcionando normalmente.

O setor da construção civil também enfrenta desafios delicados. Muitos edifícios foram nacionalizados durante a revolução liderada por Fidel Castro, com o objetivo de garantir moradia para toda a população. No entanto, devido ao bloqueio econômico, os materiais necessários para a manutenção e reforma dos prédios estão praticamente indisponíveis. Por essa razão, é comum vermos imagens de construções extremamente antigas e deterioradas pelo tempo.
No caso dos carros, o bloqueio também exerce um impacto significativo. Cuba tornou-se famosa por seus veículos antigos. A realidade, contudo, é que, devido à relação tensa com os Estados Unidos, carros e suas peças são muito mais caros do que o normal ou, frequentemente, nem chegam ao país.
Apesar de tantas limitações, a ilha continua sendo considerada um verdadeiro paraíso na Terra.
O paraíso acessível

Além de muitos pontos históricos preservados - dentro do possível -, Cuba é lar de praias deslumbrantes. Um destaque especial vai para Varadero.
Com cerca de 20 quilômetros de extensão, também conhecida como Playa Azul, Varadero é a praia mais famosa de Cuba e foi nacionalizada durante a revolução liderada por Fidel Castro. Isso garantiu sua acessibilidade para toda a população e também sua proteção contra a privatização por resorts ou hotéis que desejem construir na área. Segundo a legislação cubana, não existem praias privadas no país.
Em Varadero, há pequenos estabelecimentos à beira-mar, que oferecem porções e bebidas. Esse cenário é bem diferente de muitas praias do Caribe, onde os governos priorizam a preservação da natureza, proibindo a construção de diversos empreendimentos à beira mar para evitar a poluição ambiental.
Além disso, para uma experiência mais imersiva e para contribuir diretamente com a economia local, é altamente recomendado hospedar-se em casa de cubanos, seja em Varadero, Havana ou qualquer outro lugar da ilha.

Havana: charutos, mojitos e daiquiris

Cuba é mundialmente famosa por seus charutos, e isso se deve a uma combinação única de fatores: o clima peculiar da ilha, o solo fértil e as técnicas tradicionais de cultivo. Esses elementos tornam o fumo cubano altamente valorizado e desejado ao redor do mundo.
Os renomados charutos Cohiba, favoritos de Fidel Castro, continuam sendo os mais procurados nas lojas do estado - isso mesmo, lojas que pertencem ao governo cubano. Essas lojas são as mais recomendadas para adquirir charutos e rum, pois garantem a autenticidade dos produtos, evitando as versões falsificadas que podem ser vendidas a preços reduzidos.
Além dos charutos, Cuba também é conhecida por uma bebida típica feita com rum: o mojito. Preparado com rum cubano, hortelã, açúcar e gelo, o mojito mais famoso da ilha pode ser encontrado no bar La Bodeguita del Medio.
Já o daiquiri, outra bebida clássica, é sinônimo do bar Floridita, conhecido por atrair turistas de todo o mundo. A fama do local deve-se, em grande parte, ao escritor norte-americano Ernest Hemingway, que inspirou um daiquiri especial da casa. O drink clássico é composto por limão, rum e açúcar.

O próprio Hemingway imortalizou esses dois bares na história de Cuba ao escrever a célebre frase: "Mi Mojito en la Bodeguita y Mi Daiquirí en el Floridita". Assim, ambos os lugares são visitas imprescindíveis para quem está em território cubano.

Um povo e sua ilha
Ao conhecer Cuba, percebe-se um povo vibrante, que luta diariamente para viver com dignidade em sua ilha, preservando suas tradições, cultura e identidade sob o governo vigente. Mesmo diante de tantos desafios, os cubanos encontram força para manter viva a alegria e o orgulho de sua terra.
Cuba é um país lindo, cheio de potencial e, se respeitado, tem muito a oferecer ao mundo. Suas belezas naturais, suas histórias e a riqueza de sua cultura são verdadeiramente fascinantes.
Então, da próxima vez que ouvirem “Vai pra Cuba!”, aceite o convite. Você certamente não irá se arrepender.

Texto escrito por Caroline Prado
Brasileira vivendo na Costa Rica, apaixonada por cachorros, plantas e fontes confiáveis. É internacionalista, tradutora e filóloga. Professora de Português como Língua Estrangeira (PLE) e História Contemporânea além de Filóloga especialista em Línguas Latinas.
Revisão por Eliane Gomes
Edição por Eliézer Fernandes
Fontes e Notas
¹ O Capitólio de Havana, em Cuba, foi inspirado no Capitólio dos Estados Unidos, sendo mais alto que o seu homônimo. Foi a sede do governo de Cuba até a Revolução Cubana, em 1959. Atualmente é a sede da Academia Cubana de Ciências (fonte: IA).
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