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Foto do escritorKatiane Bispo

O silêncio que protege e consente

Atualizado: 9 de abr.

As manchetes de jornais do mundo inteiro noticiam a condenação de Daniel Alves a quatro anos e seis meses de prisão na Espanha por violência sexual a uma jovem de 23 anos, ocorrida em 2022 em Barcelona. O pedido inicial da acusação foi de 12 anos, o Ministério Público espanhol apostava em nove, mas a condenação abrandou pela metade, seria sorte?  Nem tanto! A fórmula do sucesso de Daniel: dinheiro, fama e uns ‘bons parceiros’ que limparam um pouco sua imagem, mesmo com as provas apresentadas em Tribunal.


Foto: Reprodução Exame

Não apenas os ‘parças’ não decepcionaram na proteção do agressor, a mãe de Daniel, Lúcia Alves, fez sua parte em defesa do seu filho ao expor vídeos e fotos da vítima se divertindo, o que para ela é inadmissível porque além da prisão a jovem também pede indenização de 150 mil euros, pago em caução antes mesmo de iniciar o julgamento. Esses muitos anos sendo feminista (antes mesmo de saber o que era feminismo) me ensinou que o machismo não existe apenas nos homens, o patriarcado deixou seu legado também entre nós.


Já falei sobre o comportamento esperado das mulheres no meu artigo “O cuidado que aprisiona”, mas vale repetir sempre que possível que somos moldadas desde cedo a padrões de comportamento, vestimenta e estéticos. Enquanto aos meninos espera-se ousadia e coragem, as meninas por sua vez devem ser exemplos de recato e obediência.


Não à toa Lilith foi a mulher renegada do cristianismo por querer o mesmo poder que Adão, maldita seja toda e qualquer mulher que ouse tamanha audácia! E o inferno a recebeu, por isso, a conta foi paga. Já Eva, retirada da costela de Adão, foi a modelo exemplar de mulher até que ela ‘desobedeceu a Deus’ e comeu o fruto proibido e por sua inteira culpa fomos expulsos do paraíso. Falo do cristianismo, mas em tantas outras religiões monoteístas a história se repete, a narrativa é a mesma: a mulher é o símbolo do pecado, e pobres dos homens que caem em seus feitiços. 


Não me espantaria se Lúcia Alves, mãe de Daniel, caso tivesse a oportunidade fizesse com a vítima de seu filho o mesmo que fizeram com a Geni, personagem da música “Geni e o Zepelim”, que por ser uma mulher que foge da imagem moralista religiosa e pudica está autorizado seu escrutínio. Sendo assim, pode jogar a pedra na Geni, porque ela é boa de cuspir já que ela ‘dá’ para qualquer um e ela merece apanhar, ou neste caso, ser exposta e revitimizada nas redes sociais, o novo tribunal da era moderna. 


Se não existe sororidade de Lúcia Alves ao caso de uma jovem violentada por seu filho, a “broderagem” dos “parças” de Daniel está mais forte do que nunca, vide o silêncio de grandes nomes do futebol depois da condenação. O recado mais uma vez foi dado; o futebol masculino ensina que nada abala a união masculina, seja dentro ou fora dos gramados. 



Texto escrito por Katiane Bispo

É formada em Relações Internacionais, especialista em Políticas Públicas e Projetos Sociais. É podcaster no “O Historiante”, colunista no jornal “Zero Águia” e ativista em causas ligadas aos Direitos Humanos. Instagram: @uma_internacionalista



Revisão por Eliane Gomes

Edição por Eliézer Fernandes

 

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