Neste exato momento que você lê este artigo, 33 milhões de brasileiros não tem o que comer, estão no nível mais grave de fome. A pandemia fez gritar as desigualdades sociais e potencializou a fome em nosso país, mas não é única vilã. Decisões de governo tomadas a partir de 2017 fizeram com que o país caminhasse para trás nas políticas de combate à insegurança alimentar, fazendo o Brasil retornar ao mapa da fome.
Em 2020, o Brasil, que já foi referência para o mundo no combate à fome e a miséria, viu seus números voltarem a patamares de 2004, ano em que a fome atingia 9,5% dos lares brasileiros.
De 2004 a 2013, políticas de combate á fome e a miséria foram adotadas pelo poder público, reduzindo o total para menos da metade (4,2% dos lares brasileiros), tendo inclusive reconhecimento da ONU. Já em 2022 a situação nitidamente piorou, 15,5% dos lares brasileiros estão em situação de fome, e em um curto período de tempo, 14 milhões de pessoas foram adicionadas na conta daqueles que convivem diariamente com a fome.
O atual momento é resultado da maneira como o governo atual tratou as políticas sociais, os programas de combate á fome e a miséria, a distribuição desigual de renda, o preço absurdo dos alimentos, o aumento desenfreado dos combustíveis, a seca, todos estes fatores contribuem para estarmos nessa situação brutal.
Outro contexto triste é que a fome tem lugar, as regiões mais afetadas pela fome são as regiões norte, nordeste e sul, mas a situação é grave em todo o país. A fome também demonstrou que tem cor e sexo, pessoas negras são mais atingidas pela fome e lares chefiados por mulheres também são os mais afetados por este mal.
Segundo a rede brasileira de pesquisa em soberania e segurança alimentar e nutricional a insegurança alimentar é dividida em três níveis, Leve, moderada e grave:
Leve – Quando há incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e/ou quando a qualidade da alimentação já está comprometida
Moderada – Quando se tem quantidade insuficiente de alimentos.
Grave - Privação no consumo de alimentos e fome. Nos últimos anos, a situação grave que é a privação de alimentos, foi a que mais atingiu pessoas.
Negação da fome e retrocessos
Se por um lado a fome aumentou a níveis piores que os de 2004, do outro lado, o governo atual nega que há fome no brasil e segue cortando recursos de programas da rede de segurança alimentar, e em alguns casos cortando quase que o orçamento todo de programas, como o Alimenta Brasil, programa que compra alimentos da agricultura familiar, que perdeu 97% dos seus recursos. Todos esses cortes são ora para atingir o teto de gastos, ora para manter orçamento secreto (nome dado a emendas de relator no congresso que não tem transparência) e infelizmente essa conta é paga pelos que estão em situação de fome, causando por exemplo internações diárias de crianças em situação de desnutrição. Somente em 2021, 8 crianças por dia entravam em hospitais desnutridas pela fome, e em 2022, houve um aumento de 7% no número de crianças que entram em hospitais desnutridas porque não tem o que comer.
Infelizmente a fome afeta inclusive lares de pessoas que tem trabalho formal, segundo dados do levantamento do inquérito realizado pela rede PENSSAN: em 2020 a fome afetava 3,3% dos lares de pessoas com trabalho formal, já em 2022 esse percentual saltou para 7,3%, mostrando que nem quem está empregado está livre da insegurança alimentar.
É inaceitável que um país como o Brasil, um gigantesco produtor de alimentos, que segundo a Embrapa alimenta mais de 800 milhões de pessoas no mundo, tenha tantas pessoas em situação de fome. Políticas públicas precisam ser retomadas urgentemente para a geração de emprego e renda, redução da inflação, deve-se realizar um investimento forte nos programas de combate á fome e a miséria e dar suporte aos produtores de alimentos.
Se não fossem as ongs, associações e solidariedade de muitos brasileiros, a situação seria muito pior, mas felizmente há acenos dos governantes que as políticas de combate a fome e a miséria vão voltar ao centro do governo, o que nos deixa bastante otimistas.
Texto escrito por Ivo Mendes
É ativista e militante há mais de 12 anos em pautas antirracistas e no combate às desigualdades sociais no Brasil. Retirou o medo do seu vocabulário, por isso é um sonhador por essência e entusiasta por sobrevivência. Formado em Gestão da Tecnologia da Informação, passou pela vida política da Baixada Santista e atualmente trabalha na área administrativa e integra a equipe de colunistas do Zero Águia.
Fontes
https://portal.fiocruz.br/
https://olheparaafome.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Relatorio-II-VIGISAN-2022.pdf
A leitura do texto nos leva à imaginações severas, que são mais reais do que pensamos, a falta de políticas de combate à fome nos leva a uma fraqueza de corpo e alma e isso precisa acabar. Eu quero comida em todos os lares!