Há 77 anos atrás os Estados Unidos detonaram duas bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, respectivamente. Os dois atentados mataram entre 130 mil e 226 mil pessoas, a maioria civis, no que é registrado como sendo o único uso documentado de armas nucleares em um conflito armado.
No último ano da Segunda Guerra Mundial, os Aliados se prepararam para uma custosa invasão do continente japonês. Este empreendimento foi precedido por uma campanha convencional e de bombardeios incendiários que devastou 64 cidades japonesas.
Hoje em dia, uma campanha de devastação dessa proporção seria impensável, simplesmente pela escala. Porém algo pior estava para acontecer, um evento que iria assustar e horrorizar a humanidade por anos.
A guerra na Europa terminou quando a Alemanha se rendeu em 8 de maio de 1945, e os Aliados voltaram sua atenção para a região do Pacífico. Em julho de 1945, o Projeto Manhattan dos Aliados havia produzido dois tipos de bombas atômicas: "Fat Man", uma arma nuclear do tipo implosão de plutônio, e "Little Boy", uma arma de fissão do tipo urânio enriquecido.
Projeto Manhattan
O Projeto Manhattan foi um empreendimento de pesquisa e desenvolvimento durante a Segunda Guerra Mundial que produziu as primeiras armas nucleares.
O físico nuclear Robert Oppenheimer foi o diretor responsável do Laboratório de Los Alamos que projetou as bombas. O componente do Exército do projeto foi designado Distrito de Manhattan, pois seu primeiro quartel-general estava em Manhattan e o nome do local gradualmente substituiu o codinome oficial, Desenvolvimento de Materiais Substitutos, para todo o projeto.
O Projeto permitiu o desenvolvimento de dois tipos de bombas atômicas, ambas desenvolvidas concomitantemente, durante a guerra: uma arma de fissão relativamente simples e uma arma nuclear do tipo implosão mais complexa. O design do tipo Thin Man mostrou-se impraticável para uso com plutônio, então um tipo de arma mais simples chamado Little Boy foi desenvolvido que usava urânio-235, um isótopo que compõe apenas 0,7% do urânio natural. Por ser quimicamente idêntico ao isótopo mais comum, o urânio-238, e ter quase a mesma massa, a separação dos dois provou ser difícil. Três métodos foram empregados para o enriquecimento de urânio: eletromagnético, gasoso e térmico.
Paralelamente ao trabalho com o urânio, houve um esforço para produzir plutônio, que pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, descobriram em 1940. Após a viabilidade do primeiro reator nuclear artificial do mundo, o Chicago Pile-1, o Projeto arquitetou o Reator de Grafite X-10 em Oak Ridge e os reatores de produção em Hanford, no estado de Washington, nos quais o urânio foi irradiado e transmutado em plutônio. O plutônio foi então separado quimicamente do urânio, usando o processo de fosfato de bismuto. A arma do tipo implosão de plutônio Fat Man foi desenvolvida em um esforço conjunto de projeto e desenvolvimento pelo Laboratório de Los Alamos.
Bombardeio atômico
O consentimento do Reino Unido foi obtido para o bombardeio, conforme exigido pelo Acordo de Quebec, e ordens foram emitidas em 25 de julho pelo general Thomas Handy, chefe do Estado-Maior interino do Exército dos Estados Unidos, para que bombas atômicas fossem usadas contra Hiroshima, Kokura, Niigata e Nagasaki.
Esses alvos foram escolhidos porque eram grandes áreas urbanas que também possuíam instalações militares significativas. Em 6 de agosto, um projétil do modelo Little Boy foi lançado em Hiroshima, ao qual o primeiro-ministro Suzuki reiterou o compromisso do governo japonês de ignorar as exigências dos Aliados e continuar lutando. Três dias depois, um Fat Man foi lançado em Nagasaki.
Nos próximos dois a quatro meses, os efeitos dos bombardeios atômicos mataram entre 90 mil e 146 mil pessoas em Hiroshima e entre 39 mil e 80 mil pessoas em Nagasaki. Cerca de metade ocorreu no primeiro dia. Durante meses, muitas pessoas continuaram a morrer devido aos efeitos de queimaduras, doenças causadas pela radiação e ferimentos, agravados por doenças e desnutrição. Embora Hiroshima tivesse uma guarnição militar considerável, a maioria dos mortos eram civis.
Guerra Nuclear e a diplomacia
O papel dos bombardeios na rendição do Japão e as controvérsias éticas, legais e militares em torno da justificativa dos Estados Unidos para eles têm sido objeto de debate acadêmico e popular. Armas atômicas são fundamentalmente imorais, pois não só causam devastação em uma escala enorme, como também criam consequências praticamente permanentes no território atacado, como níveis de radiação, doenças e poluição.
Porém, uma visão que foi popularizada pelo historiador americano Gar Alperovitz em 1965, é a ideia de diplomacia atômica, por exemplo o fato de que os Estados Unidos e a URSS usaram armas nucleares como instrumento de intimidação no decorrer da Guerra Fria.
Esta ideia de diplomacia atômica persiste até os dias de hoje, como é possível ver nas negociações da Rússia com a OTAN, ou da China com os Estados Unidos. O poderio bélico em seu ápice é representado pelas armas nucleares e em muitos casos argumenta-se que exatamente pela ameaça de devastação nuclear que uma terceira guerra mundial ainda não foi deflagrada.
De qualquer forma, hoje relembramos estes tristes acontecimentos para conscientizar e deixar bem claro que bombas atômicas não são nem de longe a resposta para decidir qualquer conflito ou resolver tensões. Na verdade, se uma guerra nuclear um dia se iniciar, é bem provável que será a última guerra da espécie humana.
Texto escrito por Eliézer Fernandes
Fundador e editor-chefe do Zero Águia, é desenvolvedor de software, formado em Segurança da Informação pela FATEC e fascinado por história e relações internacionais.
Fontes:
Bombardeio atômico - https://en.wikipedia.org/wiki/Atomic_bombings_of_Hiroshima_and_Nagasaki
Projeto Manhattan - https://en.wikipedia.org/wiki/Manhattan_Project
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