“Sim, participarei da reunião da CELAC”

Essa foi a resposta da presidente do México, Claudia Sheinbaum, a um jornalista no mês passado. Coincidentemente, na mesma semana, o Google Trends registrou um pico inédito nas buscas pela palavra, com os maiores interessados provenientes de países da América Central, como Honduras, Nicarágua e Cuba.
A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) é um bloco intergovernamental composto por 33 países da América Latina e do Caribe. Criada em 2010 e oficializada em 2011, sua principal missão é promover a integração regional e fomentar o diálogo político, econômico e social entre seus países-membros.
O Brasil desempenhou um papel fundamental como articulador na criação do bloco, reforçando sua importância na integração regional. No entanto, o país se afastou por quatro anos devido a uma decisão ideológica do ex-presidente Jair Bolsonaro, que optou pela retirada. Em 2023, o Brasil retomou sua participação, reafirmando seu compromisso com o bloco.
Os desafios da integração do bloco
A criação da CELAC destacou-se por sua ambiciosa proposta de unir 33 países com o objetivo de fomentar o diálogo político, a concertação e a cooperação regional. Sua agenda abrangente inclui temas cruciais, como segurança alimentar e energética, saúde, inclusão social, desenvolvimento sustentável, transformação digital e infraestrutura voltada para a integração regional.
No entanto, as divergências entre os países latino-americanos e caribenhos, especialmente de natureza política, rapidamente se tornaram um desafio significativo para que o bloco atingisse seu propósito inicial.
A reunião extraordinária mencionada no início deste artigo, havia sido convocada em resposta às deportações em massa pelo endurecimento da política migratória do presidente estadunidense Donald Trump. No entanto, foi cancelada um dia antes, evidenciando os obstáculos enfrentados pelo bloco em sua busca por unidade e cooperação.
A presidente de Honduras, Xiomara Castro, que também é a atual presidente da CELAC, informou em nota que a reunião foi cancelada porque:
"(Alguns países-membros) privilegiaram outros princípios e interesses diferentes aos de unidade da região latino-americana e caribenha".

Os países-membros mencionados por Castro são a Argentina, liderada por Javier Milei, e El Salvador, governado por Nayib Bukele. Ambos os presidentes, conhecidos por sua aliança com Trump, atuaram nos bastidores para desmobilizar a reunião do bloco, que segue sem uma nova data definida para ocorrer.

A CELAC continua sendo um sonho não concretizado para a integração da América Latina e do Caribe, uma promessa que, desde sua criação, parece destinada a não se cumprir. Apesar dos discursos que enfatizam a importância da integração regional, falta vontade política por parte dos países-membros. Essa ausência de compromisso reflete-se na atuação quase inexpressiva do bloco diante dos desafios regionais enfrentados.
A integração regional, em um mundo global que enfrenta desafios econômicos e ambientais crescentes, é mais do que uma opção: é uma necessidade urgente. Cabe aos países-membros transformar palavras em ações concretas, para que a CELAC possa, finalmente, desempenhar o papel essencial para o qual foi criada: promover a integração da América Latina e do Caribe.
Quem sabe um dia…
Katiane Bispo, é feminista, formada em Relações Internacionais com especialização em Políticas Públicas e Projetos Sociais. Já atuou em inúmeros projetos de defesa aos Direitos Humanos, Gênero e Educação. Uma curiosa por essência e teimosa por sobrevivência. É podcaster no programa "O Historiante", colunista no Portal Águia. Instagram: @uma_internacionalista
Revisão por Eliane Gomes
Edição por João Guilherme V.G.
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