"Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles, é um filme brasileiro que tem conquistado destaque no cenário cinematográfico internacional. Baseado no livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, a obra retrata a luta de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, por respostas sobre o desaparecimento de seu marido (Rubens Paiva) durante a ditadura militar no Brasil. O filme não é apenas uma homenagem à memória de Eunice Paiva, mas também uma reflexão sobre a resistência e a busca por justiça.
Estratégia de Lançamento

A estratégia de lançamento de "Ainda Estou Aqui" foi meticulosamente planejada para maximizar o impacto do filme. A estreia mundial ocorreu no prestigiado Festival de Veneza em 1º de setembro de 2024, o que ajudou a criar um grande buzz internacional. O lançamento no Brasil foi programado para 7 de novembro de 2024, permitindo que o filme fosse exibido em festivais e cinemas locais antes de sua distribuição internacional.
A parceria com distribuidores internacionais, como a Sony Pictures Releasing, foi fundamental para garantir que o filme fosse lançado em diversos países, incluindo os Estados Unidos, França e Portugal. Essa estratégia permitiu que "Ainda Estou Aqui" alcançasse um público global e aumentasse suas chances de reconhecimento em premiações internacionais.
Campanha Publicitária e Distribuição
A campanha publicitária de "Ainda Estou Aqui" foi robusta e multifacetada, especialmente nos Estados Unidos. O marketing digital e o uso das redes sociais foram cruciais para aumentar a visibilidade do filme. Campanhas nas redes sociais, trailers impactantes e entrevistas com o elenco e a equipe ajudaram a criar um burburinho significativo ao redor do filme.
Além disso, a Sony Pictures Releasing produziu uma campanha publicitária na TV aberta dos EUA, o que aumentou ainda mais a visibilidade do filme. O filme estreou em 17 salas em janeiro de 2025 e, após receber três indicações ao Oscar, saltou para 97 salas e, posteriormente, para 500 salas. Isso é inédito para uma produção brasileira e demonstra o sucesso da estratégia de distribuição e promoção.
Uma campanha publicitária bem executada e uma distribuição estratégica podem ter um impacto profundo no sucesso de uma produção cinematográfica. No caso de "Ainda Estou Aqui", a visibilidade aumentada e a exposição em mercados chave ajudaram a atrair uma audiência maior e a aumentar as chances de reconhecimento por críticos e jurados de premiações internacionais. Festivais de cinema e premiações, como o Oscar, muitas vezes consideram a presença e a recepção do filme em diferentes mercados e plataformas, tornando a campanha publicitária e a distribuição elementos cruciais para o reconhecimento e sucesso global do filme.
Recepção do Público e Resultados
As estratégias de lançamento e distribuição da obra se mostraram eficientes pelos números de exibição e bilheteria. Na 12ª semana de exibição do filme, mais de 4 milhões de pessoas já assistiram a produção, isso apenas no Brasil.

Nos Estados Unidos, o longa estreou em 17 de janeiro de 2025. Após as indicações ao Oscar de Melhor filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz no dia 23 de janeiro, o número de salas exibindo a obra saltou de 5 (semana de estreia) para 700 salas (dados de 10/02), batendo o recorde de Central do Brasil (144) e Cidade de Deus (108).
Os números foram catapultados pelos mais de 30 prêmios conquistados (nacionais e internacionais), incluindo o Globo de Ouro para Melhor Atriz em Filme Dramático (Fernanda Torres) e o Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano e o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).
A recepção do público vai além das altíssimas notas no site agregador de críticas de filmes Rotten Tomatoes (96% pela Crítica e 98% pelo público) e 8,8/10 no IMDb (Internet Movie Database).
O impacto do filme extrapola as telas do cinema e se materializa em discussões sobre o período da ditadura militar, memórias e política atual. José Carlos Moreira da Silva Filho, da Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, citou a vitória de Fernanda pela atuação no filme que, segundo ele, “contribui para dimensionar o período da ditadura no Brasil".
Essa potência da obra cinematográfica traz e fortalece a memória de Eunice Paiva, que batalhou em vida e morte pela vida e defesa dos povos indígenas, pela memória das vítimas da ditadura e pela lembrança do que ocorreu com Rubens Paiva, desaparecido durante o período de violência política que não se deve esquecer.
Mas se engana quem acredita que o filme passaria ileso de polêmicas. Internautas resgataram uma esquete de comédia de 2008, em que Fernanda Torres fazia blackface (prática de pintar o rosto de preto ou marrom para representar pessoas negras de forma estereotipada). A artista veio a público se desculpar e dizer que a prática (blackface) é inaceitável.
Os internautas, porém, resgataram um outro caso parecido de Zoe Saldanha, atriz coadjuvante do filme “Emília Perez”, que, segundo os internautas, teria feito blackface em um filme de 2016.
O embate escalou quando Karla Sofía Gascon (Emília Perez), insinuou que a equipe de Fernanda Torres teria “falado mal dela e de Emília Perez”, em entrevista à Folha de São Paulo:
“Para ressaltar o trabalho de uma pessoa não é necessário afundar o trabalho dos demais. Em nenhum momento, [alguém] me verá falando mal de Fernanda Torres ou do filme. Mas, por outro lado, há pessoas que trabalham com Fernanda Torres que falam mal de mim e de Emilia Pérez. Isso fala mais deles e de seu filme [‘Ainda Estou Aqui’] do que do meu”, concluiu.
No âmbito nacional, perfis mais identificados com a direita política alegaram que o filme teria recebido recursos da Lei Rouanet, o que foi desmentido em nota técnica pelo Ministério da Cultura: “A obra é uma produção brasileira, em regime de coprodução internacional com a França e financiada com recursos próprios”, explicou. Até mesmo por suas características como um longa-metragem, a produção inspirada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva não poderia se aproveitar da lei de incentivos.” (MinC, 2025).
Conclusão
Em suma, "Ainda Estou Aqui" não é apenas um filme, mas um poderoso testemunho da luta por justiça e memória no Brasil. A obra de Walter Salles, com a brilhante atuação de Fernanda Torres, transcende as telas e provoca reflexões profundas sobre a ditadura militar e suas consequências. A estratégia de lançamento e a campanha publicitária meticulosamente planejadas garantiram que o filme alcançasse um público global, conquistando prêmios e reconhecimento internacional. No entanto, a produção também enfrentou polêmicas, mostrando que a arte, muitas vezes, reflete e desafia as complexidades da sociedade. "Ainda Estou Aqui" é, sem dúvida, um marco no cinema brasileiro, reafirmando a importância de lembrar e discutir nosso passado para construir um futuro mais justo e consciente.
Texto escrito por Josué Kenji
formado em Relações Internacionais, produtor cultural e pós-graduando em gestão Cultural, desenvolvimento e mercado. É co-organizador do "Festival da Criatividade Cria Bauru 2020" desde 2020, criador da "Comunidade Criativa Cria Bauru", articulador criativo da "Rede Bauru: Cidade Criativa Unesco", está membro do "Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação (2022-2024)" na cadeira de Sociedade Civil e atualmente é colunista do Portal Águia.
Texto escrito por Gustavo Longo
Atuante na área da tecnologia há vinte anos, conciliador, curioso, disposto e apaixonado em sempre ajudar as pessoas, além de crente no poder transformador da Educação. Nas horas vagas, busca aprender sobre mercado de ações e em descobrir curiosidades do mundo do cinema através do canal Youtube Faro Frame. Acaba de iniciar um projeto pessoal com sua esposa para viajar e "viver" como um cidadão local em cada capital brasileira por 30 dias nos próximos anos.
Revisão: Eliane Gomes
Edição: João Guilherme
Referencias
Comments